segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Defuntos e campanhas

Pois é amigos, pois é.
Segunda-feira, renovaram os cartazes com fotos de candidatos...vejam bem, eu disse "renovaram"...E lá estão candidatos a deputados federais, fe de ra is, ao lado do sorridente falecido ex-candidato.
Meu Deus, meu Deus. 

O que vejo e dói é que não há propostas consistentes e sustentávais, somente marchinhas e números mnemônicos, fáceis do eleitor gravar e lembrar na urnas. Digo às minhas filhas que o poder financeiro do candidato se percebe no número que ele recebe, ou seja, 1313, 4040, 1414 e por aí vai...de fácil memorização, mas caro o partido cobra. Por quê? Porque é mais fácil o eleitor se lembrar.

Vejam, fotos muito bem estudadas, números mnemônicos e marchinhas, preferencialmente forrós, na minha cidade. Propostas? Nem pensar, nem pensar.

Isso ocorre após produção de marketing eleitoral, um dos mais avançados do mundo que, cientificamente, consegue perceber e medir o que o eleitor presta atenção, quer ou pensa. Então, dái...Valha-me Cristo!!

O que dói é que está a mesma coisa de minha época de garoto em Juscelino (mais sofisticado que Mesquita RJ)..Contudo estamos no QUARTO ano, da SEGUNDA década do SÉCULO XXI e os artifícios para ludibriar o eleitor são os mesmos, sofisticados mas absolutamente os mesmos.
Ó Pasárgada!! Ó Pasárgada!! Onde te encontras?!?! Para que lado ficas?!?!

domingo, 21 de setembro de 2014

O suplício de Sisyphus!


Queridos amigos, tenho evitado assistir aos debates presidenciáveis por não acreditar no que dizem. Primeiro, por acompanhar esse processo há muitos anos, já presenciei vááááárias oportunidades de políticos sendo punidos por votarem diferente do que o partido manda ou tendo que entrar na justiça para poder votar contra. O caso mais emblemático foi o de Heloísa Helena por ocasião do mensalão e do falecido presidente do PSDB que justificou seu voto errado por acidente, contrariando a decisão de sua bancada. Ou seja, se o eleitor "maduro" acha que aquele que receber seu voto fará o que lhe prometeu, nada, muito menos eu, pode ser feito ou fazer. Enfim...

Bem, toda vez que abro a internet ou ouço alguém me perguntar vem as declarações.
O que digo é o de sempre, será uma loteria, mais uma vez, uma lamentável e dolorosa vez. Por vários, vários e vários motivos já estampados, sobretudo nos últimos dias, lamentavelmente concordo com Michel Temmer, lamentavelmente, pois não gostaria que assim o fosse, mas é impossível eles não serem reeleitos.

Desculpe, mas quem tem alguma esperança, não levem a mal e podem, se quiser, me excluir -mas assim como na carreira militar e na vida, eu falo o que acho que tem que ser dito e não o que a pessoa gostaria de ouvir (e essa exacerbada preocupação em não ferir susceptibilidades ou coitadismo ou politicamente correto, para quem AINDA não percebeu, está afundando nosso país), enfim, quem nutre outras esperanças mediante vários sinais concretos de arrestamento, verdadeiro arrestamento de todas instituições (jurídico, executivo, legislativo, sociedade civil organizada) foi quem começou a prestar a atenção ao Brasil nos intervalos das novelas, campeonatos de futebol, Big Brothers, UFC, Ratinhos, Datenas, etc e lamentáveis platitudes similares. Enfim, aos amigos mais novos venho falando a mesma coisa aos amigos mais velhos há anos...e infelizmente pouquíssimo mudou, haja visto o que vivemos agora, exatamente agora.

Enfim, candidatos a imperador...desculpe, a presidente, estão prometendo, ou melhor, enganando, sobre coisas que não lhe pertencem cuja ação é comum em ditaduras e não em democracia, muito menos, muito menos, republicanas. 

Por que estresso o Republicana? Exatamente porque o Chefe do Executivo EXECUTA e não LEGISLA, em função de demandas apresentadas por 5 565 outros chefes de executivos municipais e 26 estaduais. Ponto, simples, legal e previsto na Constituição de 1988 ASSIM. Apesar de se ter absolutamente, todos os sintomas de Casa da Mãe Joana ainda é o que a CRFB 1988 prevê.

Então se o candidato diz que irá ou não mexer nos direitos trabalhistas isso, por si só já é um crime passível de impeachment, à vera, no duro. Pois isso quem decide É a sociedade civil organizada que, por intermédio de seus representantes, nas 5 565 Câmaras de Vereadores, 26 Assembléias Legislativas e Congresso, decidiram POR CONSENSO, CONSENSO, pois é isto, sobretudo, sobretudo, que caracteriza uma república que só pode existir em uma democracia.

QUALQUER coisa que o candidato prometer ele terá que conseguir por convencimento, para se ter o consenso, para que os DONOS da bola, legislativo, formalizem como LEI, aí o presidente EXECUTA!! Qualquer coisa diferente pediram dinheiro, espaço, influência, cargos, sobretudo cargos, daí, QUANTO MAIS RÍGIDO para "satisfazer" o eleitor "indignado no intervalo da novela ou do futebol" quiser, haverá cobranças, mais ministérios, mais organizações públicas de segundo, terceiro e quartos escalões para abrigar os "cabidaços" de emprego, mais escândalos de DNIT, Pasadena, Petrobrás e todas demais "brás", aliás, amigos, em nosso sorry country, "brás" poderia TAMBÉM significar "teta", ou "cabidaço" de cargos ou emprego (JAMAIS trabalho).

Enfim, querem entender o que está acontecendo? Leiam, leiam muito leitura de qualidade. Não poesias, não auto-ajuda, não esoterismo, não romances água com açúcar, etc, etc. Neste particular o que sempre, também, falo aos amigos mais velhos é que não adianta Bienais de Livros, Rio, SP, Brasília, etc terem records de vendagens pois os livros, em grande maioria, são de assuntos risíveis, leves e platitudes. Qual é a métrica que eu chego a tal conclusão? A qualidade de nosso eleitor e a profundíssima baixa qualidade e confusão de entendimento de realidade estampada em posts no Facebook, no Twetter e similares. Como os presidenciáveis só falam o que os avançadíssimos especialistas em marketing eleitoral captam da sociedade, este acaba sendo mais um sinal, mais uma métrica do quanto estamos distantes, muuuito distantes de uma sociedade capaz de exercer uma cidadania, uma governança social madura e eficiente. Caminhamos para mais uma loteria eleitoral.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A corrupção aumenta ou diminui?

GAUDÊNCIO TORQUATO
 ESTADO DE S.PAULO  


O mais recente escândalo no País - a teia de interesses escusos dentro da maior empresa brasileira, símbolo que puxa o orgulho nacional desde sua fundação - dispara tiroteios entre exércitos situacionistas e milícias da oposição, sob densa fumaça eleitoral, deixando no ar a inevitável dúvida: mesmo com os mecanismos do Estado mais atentos e eficientes na investigação de bandalheiras, ilícitos e desvios, a corrupção tem aumentado nos últimos tempos? Ou os controles têm sido frouxos no combate às ações de larápios que capturam imensa parcela do Tesouro nacional?

Vejamos. Calcula-se a conta da corrupção em R$ 100 bilhões, com o Brasil ocupando a 72.ª posição na lista dos países mais limpos organizada pela ONG Transparência Internacional. A título de comparação, aqui pertinho, o Uruguai está na 19.ª posição e o Chile, na 22.ª. E não é por falta de prisões que a corrupção endêmica se espraia. Entre dezembro de 2008 e dezembro de 2012, o número de detentos no sistema penitenciário brasileiro por crimes contra a administração pública - corrupção e peculato, por exemplo - cresceu 133%, sete vezes mais que o aumento da população carcerária de então. Hoje quase 3 mil pessoas cumprem pena por esses crimes.

A primeira resposta à questão é, portanto, que os mecanismos do Estado têm melhorado seu desempenho tanto nas apurações como na prisão de criminosos. Mesmo assim a corrupção anda a galope. Como se explica a aparente contradição?

Tentemos examinar a questão sob um feixe de fatores. O primeiro diz respeito às transformações por que tem passado a política neste ciclo que os sociólogos designam como sociedade pós-industrial. A política esvazia-se de ideologia, na esteira da alienação que cresce com a abundância e da degradação dos mecanismos tradicionais da democracia liberal (partidos, parlamentos, bases políticas, oposições, etc.). A nova era descortina uma desoladora paisagem de competições ideológicas menos contrastadas e agora ancoradas em vastas organizações de interesses privados, de um lado, e, de outro, em burocratas da administração governamental e, ainda, em entes que abandonaram sua identidade de partidos de massas para alcançar o poder pelo poder (catch-all parties, partidos do agarra tudo o que puderes). Nessa modelagem, também chamada de tecnoburocracia, os especialistas-técnicos acabam formando parcerias com empresas e políticos. A política, por conseguinte, deixa de ser missão para virar negócio. Esse redesenho se projeta na paisagem mundial, com ênfase mais em um ou outro país, porem sem perder as características do modelo que Roger-Gérard Schwartzenberg chama de democracia das organizações.

Pulemos agora para nossas plagas tropicais, onde tal modelagem adquire proporções exageradamente enviesadas em razão de uma cultura política irrigada pelas fontes do passado. Os clássicos da nossa sociologia, como Sérgio Buarque de Holanda, são unânimes ao apontar os "interesses individuais e os familiares intervindo no trato da coisa pública de tal modo que o Estado perde sua função precípua de mantenedor da justiça e da ordem, passando a funcionar exclusivamente em benefício dos grupos que o controlam". A imagem que emerge é a da Grande Família. Honório Hermeto Carneiro Leão, marquês de Paraná, afirmava haver no Brasil "políticos capazes de todas as coragens, menos a coragem de resistir aos amigos". E que empreendimento se pode oferecer aos amigos? Ora, as coisas da res publica, na crença de que o Estado é a mãe, o pai, o herói, o salvador do povo.

Emerge aqui a figura do Estado providencial, com sua sombra se projetando sobre nossa cultura política. Getúlio Vargas, o ditador, deu força ao conceito. Foi ele que contribuiu para reforçar no País o que o pensador José Murilo de Carvalho nomeia como estadania, a cidadania fincada nos vãos do Estado. Diferentemente do modelo inglês de formação da planilha dos direitos, amparada primeiro nas liberdades civis, seguidas por liberdades políticas e por último, os direitos sociais, o Brasil estabeleceu inicialmente os direitos sociais, na sequência os direitos políticos e, por último, os direitos civis. A pirâmide da cidadania virou de cabeça para baixo. Essa inversão explica a valorização do Poder Executivo, capaz de prover necessidades e demandas dos cidadãos. A ilustração da vaca leiteira é recorrente: nela todos querem mamar. Deriva daí a fascinação das massas por quem detém o poder da caneta. Indivíduo e governo se confundem, para deleite dos governantes. O falecido senador Parsifal Barroso recordava os tempos em que governava o Estado do Ceará: "Aí vem o governo" era o que ouvia do povo que acorria para recebê-lo.

Fechemos o circuito: Estado providencial, expansão da vida econômica, cultura arraigada no familismo (filhotismo, nepotismo), tecnodemocracia em expansão, partidos e atores políticos ganhando fatias da massa administrativa, feudos distribuídos aos integrantes da base governista, competitividade acirrada, o que esperar de um país que entrou no ranking dos emergentes? Conviver com o presente, mas deixando os pés amarrados à velha arvore dos "ismos". Ainda mais quando o portfólio de riquezas se abre para os grandes negócios (petróleo, obras de infraestrutura, logística, etc.). A potência emergente tem um olho no futuro e outro no passado.

O poder invisível que age nas entranhas da administração pública se expande. Para ele, vale a pena investir no crime contra o Estado. Ademais, a punição demora, quando ocorre. Os criminosos de colarinho branco acabam usando seu poder ($) para adiar a pena. (Estudos dão conta de que 96% dos danos à sociedade são causados por crimes de colarinho-branco.)

Fechar as comportas da corrupção mais parece utopia. Mas é possível usar a velha receita: mudando as regras da política, coisas boas poderão vir. Importa ter vontade de sustar a metástase que devasta o corpo político. E fazer circular novo sangue.
.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

A vida e nosso tempo

FABIO GIAMBIAGI
O GLOBO 


Vivemos em um país onde o Executivo não executa, o Legislativo não legisla e a Justiça não julga. O Brasil clama por reformas. Não podemos continuar a perder tempo

Nasci em 1962 e tenho 52 anos. Creio que o espírito do que vou expressar é representativo de uma parte da geração que vai dos 40 aos 70 anos e que acompanha de perto os problemas do país. Por que essa faixa etária? Porque antes dos 40 o tempo tende a ser visto como infinito na vida do jovem. Já depois dos 70, são poucos os que contarão ainda 20 ou 25 anos de caminhada pela frente. O grupo etário entre 40 e 70 anos representava 19% da população em 1980 e hoje é de 30%. Trata-se de um contingente expressivo.

Sendo filho dos anos 60, vivenciei alguns momentos importantes e esperançosos da vida nacional: a luta pela anistia no fim dos anos 70 e a expectativa pelo retorno dos exilados; a campanha pelas eleições diretas em 1984 e a consequente eleição de Tancredo no Colégio Eleitoral, pondo fim ao ciclo de mais de 20 anos de governos militares; as passeatas pelo impeachment de Collor em 1992; e os primeiros passos da estabilização em meados dos anos 90. Finalmente, acompanhei com interesse cívico a eleição de Lula em 2002 e o processo político-social da década passada, caracterizado como uma etapa de inclusão social e que explica a elevada popularidade com que ele concluiu sua gestão em 2010.

Cada uma dessas etapas da vida do país testemunhou avanços: com a anistia e o retorno dos exilados, encerrou-se uma etapa de segregação entre brasileiros; o fim do regime militar distendeu a vida do país e em 1989 levou à retomada das eleições diretas para presidente depois de quase 30 anos; os eventos políticos de 1992, conquanto expressassem um arrependimento amargo da maioria da população em relação ao voto que tinha dado pouco antes, foram sinal de vitalidade e de vigência plena das instituições; a estabilidade implicou deixar atrás a hiperinflação que corroía a auto-estima nacional, além de ser um transtorno na vida de todos; e o Brasil atual é um país socialmente melhor e mais justo que o do começo da década passada.

Apesar de tudo isso, para quem chega à meia-idade e acompanha as mazelas da realidade nacional desde que começou a ficar antenado para a realidade — no meu caso, nos tempos de Geisel — o sentimento de angústia pelo avanço do tempo é a cada dia mais nítido. Não falo de angústia aqui no sentido existencial, pela consciência individual de que o fim da caminhada de cada um vai se aproximando — falo da mistura de tristeza, desconforto e exasperação pela percepção de que nosso tempo vai se esgotando, sem que nos tenha sido dada a chance de conhecer o país com o qual todos sonhamos em nossa juventude. É então que o sentimento de urgência se torna mais palpável. E é aqui, justamente, que o contraste entre essa percepção individual e a ausência total e absoluta de qualquer sentimento de urgência na classe dirigente do país se torna mais dramática para quem compartilha essa idade e foi partícipe daqueles movimentos que antes citei.

Nesse contexto — e não falo isso para expor meu caso pessoal e sim porque considero representar um ânimo difuso e compartilhado, provavelmente, por muitos leitores — lembro-me de conversas, por vezes intensas, com meu falecido pai, nos anos 80, quando eu começava a perceber que mudar o mundo e o Brasil não era tão simples. Naquela ocasião, nos primórdios da minha vida cívica, eu com 20 e poucos anos e ele a caminho dos 60, quando discutíamos sobre o Brasil, eu era otimista pela possibilidade de chegar a ver um país desenvolvido, 30 anos depois. Tive que envelhecer para, retrospectivamente, entender o motivo da irritação do meu pai com aquele raciocínio: é que ele, simplesmente, não dispunha de mais 30 anos pela frente para esperar esse dia chegar. Hoje, o sentimento que me acomete é o mesmo: o tempo está passando — e o Brasil com o qual minha geração sonhou está demorando a chegar.

Costumo dizer em minhas palestras que o Brasil avançou muito nos últimos 20 anos, mas continua sendo um país que não funciona bem. Por quê? Em poucas palavras, porque vivemos em um país onde o Executivo não executa, o Legislativo não legisla e a Justiça não julga. O Brasil clama por reformas. Não podemos continuar a perder tempo e a protelar a solução dos problemas. Seria bom que os candidatos à Presidência tomassem ciência disso.
.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Perguntas impertinentes

Como concluí o Mestrado em Segurança e Defesa aprendi que a insegurança advém da violência, sobretudo urbana. O principal causador, dentre um farto elenco de causas, é a falta de acesso a um posto de trabalho regular, perene e de qualidade. Empregos temporários ficam de fora desse contexto. 

Assim, a candidata da Rede concorda em reforçar a ação dos sindicatos e entidades de classe, Brasil afora, o que contribui, sobremaneira, para o encarecimento do posto de trabalho de qualidade. Ademais, o brilhante filósofo gaúcho desnuda o que a mídia, fartamente já publicou, e eu já conhecia, mas que a sociedade distraída faz questão de ignorar, sobretudo os acólitos e simpatizantes.

Vale a pena a reflexão, pois o desemprego será altíssimo se ela ganhar.


Perguntas impertinentes 
Denis Lerrer Rosenfield
O ESTADO DE S.PAULO 


Marina Silva já está colocada como alternativa efetiva de poder. Suas ideias, porém, têm se caracterizado por extrema generalidade, como se a prática de governar não exigisse atitudes concretas e bem orientadas. Ela oscila entre um liberalismo do ponto de vista da política econômico-financeira e posições de convicção anticapitalista, atentando contra o direito de propriedade, passando por hesitações entre posturas conservadores ou ditas progressistas em relação aos costumes.

Apesar disso, vem usufruindo extrema complacência de certos setores de jornalistas e formadores de opinião, como se fosse uma desconhecida que apenas agora deveria apresentar suas ideias. Outros ainda falam de sua inexperiência, quando há toda uma experiência dela envolvida, realizada quando de sua passagem pelo Ministério do Meio Ambiente (2003-2008) e como senadora (1994-2002). É aí precisamente que devermos buscar suas ideias, que contrastam com atitude recente, como quando disse, sem ruborizar, no Jornal Nacional que nunca foi contra os transgênicos. Basta consultar os jornais da época para expor a falsidade de tal afirmação.

Se for coerente com suas ideias, há vários setores econômicos que serão prejudicados: agricultura, pecuária, agronegócio, mineração, construção civil, shopping centers, hotelaria em zonas rurais e litorâneas, estradas e rodovias, hidrelétricas e empresas de energia em geral, empresas de transgênicos, de tabaco e sua cadeia de agricultura familiar de cultivo, armas e munições e bebidas alcoólicas em geral. O impacto econômico dessas ideias pode ser grande, em todo distinto de suas posições "liberais". Seria um liberalismo sustentado pela relativização do direito de propriedade! Vejamos alguns desses pontos.

Movimentos sociais - Marina Silva é egressa desses movimentos, que apoia, compartilhando os mesmos princípios. Sua posição, neste quesito, é anticapitalista. Sustentou no passado as invasões do MST, sendo firme partidária do que essa organização política entende como "reforma agrária". Isso significa que, caso vença a eleição, voltam à pauta a questão dos índices de produtividade, como já foi anunciado em seu programa de governo, e a desapropriação de imóveis rurais, praticamente parada nestes anos de governo Dilma. Note-se que no atual governo a ênfase foi corretamente posta na qualificação dos assentamentos da reforma agrária e em soluções negociadas de conflitos. Ainda no tocante aos movimentos sociais, considera a candidata apoiar o MTST, cuja política é voltada para o "acúmulo de forças" na luta contra o capitalismo, como reconhece seu líder, na sua cruzada contra a economia de mercado e o direito de propriedade? As invasões de propriedades urbanas seriam "justificadas"?

Código Florestal - Marina foi e continua sendo fervorosa adversária do novo código. Tudo fez, com apoio de ONGs nacionais e internacionais, para que não fosse aprovado. Consumada a aprovação, considera-o um retrocesso que deveria ser corrigido. Logo, se eleita presidente, passaria a rever a nova legislação, apregoando uma volta ao passado, com todas as suas restrições e limitações? As ONGs, então, voltariam com toda a força, resgatando o poder que tiveram quando ela esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente? Convém lembrar que seus auxiliares mais diretos e influentes foram recrutados em ONGs, nacionais e internacionais. A situação, caso eleita, se repetirá?

Questão indígena - Marina Silva é firme partidária da atual política indigenista conduzida pela Funai, com forte viés anticapitalista e profundo desrespeito ao direito de propriedade. Esse órgão não hesita em ir contra o Estado Democrático de Direito, tampouco segue a jurisprudência estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal quando do julgamento do caso da Raposa-Serra do Sol. Marina presidente só faria, então, intensificar essa orientação, com a multiplicação de invasões no País e a expropriação de terras? (Desapropriações indígenas não pagam pela terra nua, só pelas benfeitorias.) É favorável a que a Funai permaneça como está, uma espécie de Estado dentro do Estado?

Energia - A candidata já se manifestou inúmeras vezes contra a construção de usinas hidrelétricas na Amazônia, vitais para o desenvolvimento do País. Belo Monte tornou-se um símbolo desses confrontos. Qual a sua posição agora? Deve esse empreendimento parar, obedecendo às injunções de movimentos sociais e ONGs ambientalistas e indigenistas? Outras usinas seriam construídas na região?

Ciência e transgenia - Quando ministra do Meio Ambiente, a candidata foi inimiga dos transgênicos, advogando por sua não produção e comercialização, até se opondo à pesquisa, na CTNBio. Frise-se: contra a pesquisa, independentemente de sua comercialização. Sua posição era claramente contra a ciência. E tudo o que se refere à transgenia foi demonizado. Defendia-se dizendo ser favorável ao princípio da precaução, quando se tratava de nada mais que uma justificativa baseada no princípio da inação. Se foi favorável a algo, consistiu na multiplicação de trâmites burocráticos que terminariam tornando inviável qualquer investimento.

Campanha - Na campanha política de Marina, assim como no estatuto de sua Rede, há uma interdição ao apoio financeiro de empresas de tabaco, armas e munições e bebidas alcoólicas. Logo, se eleita, tudo faria para restringir legal e comercialmente (via impostos) a atividade de empresas desses setores? Convém lembrar que são setores com ampla cadeia produtiva, de forma que o impacto sobre eles se disseminaria para vasta gama de outros setores, da produção à comercialização. Ademais, são atividades econômicas legais, constitucionalmente reconhecidas. O que, então, têm de "sujo", como se as doações pudessem manchar sua candidatura?
.

sábado, 6 de setembro de 2014

Recessão e incompetência

EDITORIAL O ESTADÃO



Está confirmado oficialmente: a presidente Dilma Rousseff conseguiu levar o Brasil a uma recessão, com dois trimestres consecutivos de produção em queda. Depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu mais 0,6% no período de abril a junho. Mas o governo, além de trapalhão, foi criativo na incompetência. Enfiou a economia brasileira no atoleiro enquanto os países desenvolvidos, com Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido à frente, começavam a vencer a crise. Mas quem, na cúpula federal, se dispõe a reconhecer o desastre e sua causa, o rosário de erros agravados a partir de 2011? A presidente Dilma Rousseff e seus ministros continuam culpando o mundo pelo desempenho brasileiro abaixo de pífio. Esse mundo malvado só existe como desculpa chinfrim para um fiasco indisfarçável. O comércio internacional voltou a crescer, a China continua comprando um volume enorme de matérias-primas e até os países mais afetados pela crise global, como Espanha, Portugal e Grécia, saíram da UTI e estão em movimento. Mesmo em desaceleração, outros emergentes estão mais saudáveis que o Brasil.

No segundo trimestre, o PIB dos Estados Unidos cresceu em ritmo equivalente a 4,2% ao ano. A rápida melhora da maior e mais desenvolvida economia é boa notícia para todo o mundo, mas desmente a lengalenga da presidente Rousseff e de sua equipe. O crescimento americano foi puxado, principalmente, pelo investimento produtivo, base para novos avanços.

No Brasil ocorreu o contrário. O investimento em máquinas, equipamentos, instalações e infraestrutura foi 5,3% menor que no primeiro trimestre do ano e 11,2% inferior ao de um ano antes. No segundo trimestre de 2013, o total investido correspondeu a 18,1% do PIB. Outros emergentes têm exibido taxas frequentemente acima de 24%. Mas o governo ainda conseguiu piorar esse indicador, derrubando a formação bruta de capital fixo para 16,5% do PIB. Foi uma taxa igual à do segundo trimestre de 2009, quando o Brasil estava em recessão, arrastado - naquele momento, sim - pela crise global.

O governo é obviamente culpado pela indigência na formação de capital fixo. Os seus erros prejudicam as ações oficiais - o fiasco do Programa de Aceleração do Crescimento é uma prova disso - e ainda criam insegurança entre os empresários. Empresário assustado com as intervenções do governo e muito inseguro quanto à evolução da economia só investe em máquinas, equipamentos e instalações se for irresponsável.

O investimento baixo e ainda em queda compromete o potencial de crescimento econômico. A recessão no primeiro semestre é parte de um desastre incompleto e ainda em curso. A produção industrial diminuiu 1,5% no trimestre e ficou 3,4% abaixo da de um ano antes. No Brasil, a indústria é a principal fonte de empregos decentes e o mais poderoso motor para o conjunto da economia. Há anos o governo tem cuidado muito mais do consumo que do investimento e, de modo especial, do fortalecimento da indústria. O resultado é inconfundível.

A criatividade na incompetência é evidenciada também pela combinação de baixo crescimento com inflação elevada e contas públicas em deterioração. Em julho, o setor público teve déficit primário de R$ 4,7 bilhões. Pelo terceiro mês consecutivo esse indicador ficou no vermelho. Isso é uma enorme anomalia. Incapaz de equilibrar suas contas, o governo tem-se comprometido, há muito tempo, a separar pelo menos o dinheiro suficiente para pagar juros e estabilizar ou reduzir sua dívida. Esse dinheiro posto de lado é o superávit primário.

A equipe econômica prometeu um resultado primário de R$ 99 bilhões para todo o setor público. O governo central - Tesouro, Previdência e Banco Central - deveria contribuir com R$ 80,7 bilhões. Até julho, o governo central acumulou apenas R$ 13,47 bilhões. O setor público total, R$ 24,68 bilhões. Alcançar a meta, só com muita criatividade e muitos truques. O desastre fiscal combina os efeitos de dois fracassos - da política econômica em geral e, de modo especial, dos incentivos tributários concedidos a setores selecionados. Não funcionaram.
.

O voto emocional


HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP 


Debates eleitorais servem para alguma coisa? Imagino que sim, mas não para os fins para os quais eles foram concebidos.

No modelo padrão de democracia, o eleitor decide seu voto após reunir informações sobre os candidatos e seus partidos, comparar as propostas de todos e pesar tudo isso na balança da racionalidade. Lindo, maravilhoso. O único problema com esse modelo é que ele está errado.

Um volume crescente de pesquisas mostra que as pessoas tendem a ser bem menos racionais na hora de votar. Ao que tudo indica, via de regra são as emoções que ditam a escolha. A razão entra depois para providenciar justificativas para a decisão.

Querem provas? Uma de minhas favoritas são os experimentos de Alexander Todorov em que ele mostrou que voluntários após olhar por um segundo para fotos de postulantes que não conheciam e apontar os mais bem-apessoados, conseguiram acertar ao menos 68% dos resultados de várias eleições para o Senado dos EUA. Bem, se o voto fosse o resultado de um processo puramente racional, a aparência dos candidatos deveria ter peso próximo a zero.

Isso significa que eleições são uma espécie de concurso de miss, no qual o mais simpático sempre vence? Nem tanto. Emoções não brotam do nada. Elas ocorrem em contextos que obedecem a lógicas conhecidas. É mais provável que você se identifique com um candidato que evoque teses parecidas com as suas do que com um que defenda o que você despreza. De modo análogo, condições objetivas afetam nossa predisposição em relação àqueles que percebemos como responsáveis por elas. Assim, se a economia vai bem, é maior a chance de o candidato governista cair em nossas graças. Se vai mal...

Nesse modelo, debates servem não para avaliar propostas, mas para o eleitor descobrir qual candidato personifica melhor suas inquietações e encontrar os pretextos com os quais justificará seu voto para si mesmo.
.

O Ideb atrasado


GAZETA DO POVO - PR  


A cada dois anos, o Ministério da Educação divulga o mais importante indicador da qualidade das escolas brasileiras, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), um dado precioso para orientar as políticas educacionais de estados e municípios. Em 2008, os dados vieram em junho; dois anos depois, em julho; o Ideb seguinte saiu em agosto de 2012 e, neste ano, a promessa era de que não entraríamos em setembro sem que os dados fossem divulgados. No entanto, já se passou quase uma semana do fim do prazo e nem sequer há previsão segura de quando o Ideb será publicado.

O ministro da Educação, Henrique Paim, atribui a demora à burocracia que analisa os dados para conferir a eles o devido grau de segurança. O levantamento já está pronto, já passou pela avaliação do Inep e pode ser divulgado nos próximos dias, afirma o ministro, embora o processo esteja ainda embaraçado em razão de recursos impetrados por escolas de todo o país, alega.

Estaria o Ideb sendo vítima do clássico “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”? Teriam as notas da educação nacional caído tanto que, politicamente, seria inconveniente divulgar o Ideb neste período pré-eleitoral? Houve quem fizesse ilações sobre o atraso de acordo com esse raciocínio, mas, como não se conhecem os números, é impossível tê-las como verdadeiras neste momento.

O atraso em si mesmo é um mal menor. O mal maior que ele faz é provocar a desorientação dos gestores públicos da educação básica que, desconhecendo o desempenho (bom ou ruim) das escolas situadas em suas jurisdições, não têm tempo para planejar medidas de correção de rumos a implantar já no próximo ano. O mal, portanto, se faz contra toda a educação nacional, condenada à cegueira por falta de diagnóstico precoce.

O Paraná, por exemplo, que em 2012 viu sua posição no ranking nacional cair nos ensinos fundamental e médio em relação ao Ideb de 2010, certamente deve ter tomado medidas para melhorar a situação. Deram resultado as medidas adotadas? Outras correções de rumo precisam ser tomadas? Sem se saber em que média se situam as escolas paranaenses; sem se saber quais são as melhores e as piores; sem se saber onde deram melhor resultado as providências tomadas, veem-se as secretarias estadual e municipais de Educação em dificuldade para planejar os próximos passos.

Independentemente da grave perturbação que causa ao planejamento a demora do Ideb deste ano, não custa lembrar que outros índices importantes para o país também vêm sofrendo ultimamente do mesmo mal. É o caso da Pnad Contínua, a pesquisa domiciliar do IBGE, cuja divulgação foi suspensa em abril por pressão do Planalto – os dados do 4.º trimestre de 2013, por exemplo, indicavam desemprego de 6,2%, bem acima dos 4,3% da Pesquisa Mensal de Emprego. A decisão levou uma das diretoras a pedir exoneração. Depois, o IBGE decidiu seguir em frente com a pesquisa, mas os dados que deveriam ter sido divulgados em 28 de agosto só serão conhecidos em novembro, devido à greve dos servidores do instituto, que durou quase 80 dias e foi encerrada no mês passado – greve, aliás, que, entre outras razões, era uma maneira de resguardar a autonomia do órgão. Mostraria a última Pnad Contínua números desanimadores sobre a economia e o emprego que pudessem ser usados contra o governo neste período de campanha eleitoral?

Adiar ou manipular dados por razões políticas é prática que levaria o Brasil ao mesmo descrédito internacional de sua vizinha Argentina. Oxalá não seja esse o ânimo que move os responsáveis pela divulgação de estatísticas tão importantes para setores como a educação.
.

Estagnação e inadimplência

EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO 


Mais um recorde negativo foi batido na economia brasileira, embora o governo continue alardeando um desempenho muito melhor que o da maior parte do mundo. A inadimplência das empresas, medida pelo número de contas em atraso, protestos e cheques sem fundos, aumentou 12,9% de junho para o mês passado. Para um mês de julho, foi o maior avanço registrado na série iniciada em 2000. Com esse movimento, o índice ficou 11,4% acima do patamar alcançado um ano antes, segundo o levantamento da Serasa Experian. A comparação dos primeiros sete meses deste ano com os do ano passado mostra um aumento de 6,9%. Os feriados da Copa do Mundo podem ter atrapalhado a rotina empresarial, mas é um exagero, ou tentativa de enrolação, atribuir todos os problemas de produção, consumo e pagamentos ao campeonato da Fifa. A estagnação da economia, a elevação de juros e a alta maior dos salários que da produtividade compõem uma explicação de maior alcance. Ainda seria possível acrescentar a variação de outros custos e a insegurança criada pelo acúmulo de erros da política econômica.

Neste mês, o cenário ruim continuou afetando a disposição dos empresários. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu mais 1,2% de julho para agosto, segundo informou na quarta-feira a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na oitava queda consecutiva, o indicador passou de 84,4 para 83,4 pontos. A escala vai de 0 a 200. O nível 100 é a linha divisória de avaliações negativas e positivas.

Em agosto, o Índice de Situação Atual caiu 3,6%, para 82,7 pontos. Esse foi o menor nível desde os 78,5 pontos de março de 2009, quando o Brasil ainda se arrastava na recessão iniciada no ano anterior com o estouro da bolha financeira no mundo rico. O Índice de Expectativas melhorou ligeiramente. Aumentou 1,4% e chegou a 84,1 pontos, mas esse número ainda aponta uma avaliação negativa dos próximos seis meses. Todos os indicadores continuam bem abaixo dos valores médios dos últimos cinco anos, 104,9 para o Índice de Confiança, 105,7 para o de Situação Atual e 104,1 para o de Expectativas.

Os cenários desfavoráveis mostrados pela FGV coincidem, de modo geral, com aqueles apontados em pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A sondagem divulgada na semana anterior pela CNI havia indicado atividade ainda baixa em julho, embora com recuo menos intenso que o observado no mês anterior.

Mas a disposição dos empresários apontava manutenção do ritmo de corte de pessoal e expectativa de novas quedas da exportação. Apesar de tudo, foram identificados alguns sinais de otimismo, todos muito moderados: a demanda interna deverá crescer, a compra de matérias-primas aumentará e haverá menos estoques indesejados.

Na sondagem da CNI, o indicador 50 divide as avaliações positivas e negativas. As mais positivas continuam muito perto da linha divisória - 51,5 em relação aos estoques indesejados, 52,1 no caso das compras de matérias-primas e 54,9 quanto à perspectiva de demanda. Mas este número é pouco menor que o do mês anterior (55,2). Apesar da proximidade do fim do ano, geralmente melhor para a atividade industrial, "as expectativas seguem pouco otimistas com relação à demanda e às compras de matérias-primas", comentaram os autores da pesquisa.

Também têm piorado as perspectivas do comércio varejista. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) cortou de 3% para 1,9% a projeção do aumento de vendas neste ano, informou na quarta-feira o presidente da entidade, Sussumu Honda. Se o número se confirmar, será o pior desempenho desde 2006, quando as vendas diminuíram 5,9%, descontada a inflação. A nova projeção, acrescentou o empresário, inclui a expectativa de um desempenho melhor que o do ano passado nas vendas de Natal.

Com base nos últimos indicadores, parciais, a FGV estima para o ano um crescimento de 0,6% para o Produto Interno Bruto (PIB). No mercado financeiro, na sexta-feira passada, a mediana das projeções estava em 0,7%, segundo pesquisa do Banco Central. Os números oficiais do primeiro semestre devem sair hoje.
.

Reflexos no IBGE

EDITORIAL FOLHA DE SP



Principal fornecedor de dados e estatísticas sobre o Brasil, o IBGE tem enfrentado dias difíceis. Não é de hoje que se registra no respeitável órgão a insatisfação de funcionários com a escassez de recursos e os indícios de sucateamento do instituto --para nada dizer de apreensões com os sinais de partidarização do serviço público.

Durante dois meses, parte dos servidores entrou em greve para reivindicar valorização salarial, orçamento condizente com as tarefas do órgão, garantia de autonomia técnica e menos interferência governamental no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O movimento terminou em agosto, mas os problemas continuam. No início desta semana, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anunciou novo corte de verbas.

O instituto pleiteava R$ 776 milhões para 2015, tendo em vista o preparo de dois levantamentos relevantes: a Contagem da População e o Censo Agropecuário. No entanto, o projeto de lei orçamentária enviado pelo governo ao Congresso prevê apenas R$ 204 milhões.

O valor é pouco superior ao efetivamente chancelado para 2014, após contingenciamento determinado pelo ministério --R$ 193 milhões, o suficiente para o custeio das atividades no período.

De acordo com a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, a tesourada provocará o adiamento das pesquisas e trará o risco de perda de qualidade das estimativas anuais, em especial no caso da contagem populacional, feita a cada dez anos.

Projeções menos precisas, embora possam ser corrigidas no futuro, dificultam o planejamento de medidas em áreas importantes, como educação e saúde.

Além disso, podem levar a contestações políticas e judiciais, já que esses dados servem de referência para a distribuição do Fundo de Participação dos Municípios.

As restrições financeiras ao IBGE decorrem de ações equivocadas que levam ao oposto do que pregam seus artífices. A ideia de valorizar o serviço público, sempre presente no discurso de fundo estatista do PT, esbarra no aparelhamento de órgãos, inclusive técnicos, e na falta de investimento.

Num ambiente de estagnação econômica, inflação elevada e descaso com a eficiência do Estado, o governo Dilma Rousseff (PT) vê-se compelido a promover ajustes de todos os tipos para remendar o descontrole de suas contas. A crise do IBGE é somente mais um triste reflexo desse estado de coisas.
.

Os empresários, os banqueiros e as pessoas

 JOSÉ PIO MARTINS
GAZETA DO POVO - PR 


“Difícil não é matar o monstro; difícil é remover-lhe os escombros.” Essa frase do grande Goethe me veio à mente após ouvir um candidato dizer que o governo tem de parar de governar para os empresários e os banqueiros, e passar a governar para as pessoas. A frase sugere que os empresários e os banqueiros não são pessoas. Mas, mesmo entendendo o espírito da coisa, há algo de contraditório na afirmação.

Tornou-se consenso nacional que o país precisa muito de empreendedores e, por isso, a população deve ser educada e treinada para ter iniciativa e empreender. As escolas estão sendo convocadas a educar mais para o empreendedorismo do que para a busca de emprego, mesmo porque somente haverá empregos se houver empreendedores e empresários.

O mundo precisa de inventores e investidores com iniciativa e capacidade de correr riscos, produzir, gerar empregos e pagar impostos. Quanto mais deles houver, mais riqueza será produzida e maior será o bem-estar social. O próprio governo, para existir, depende de impostos gerados pela produção; logo, é necessário haver produtores. O discurso antiempresarial é uma dessas coisas totalmente ultrapassadas, mas que ainda fazem sucesso no Brasil.

Tomemos o caso dos bancos. Estes existem desde que a humanidade inventou a moeda como instrumento de troca. Na sociedade do escambo (troca de mercadoria por mercadoria), os bancos não eram necessários. Muitos críticos não são contra a existência dos bancos. São contra bancos privados e querem apenas bancos estatais. Fui diretor e presidente de banco estatal e aprendi que, com raras exceções, colocar banco nas mãos de políticos é um perigo; é como dar uma espada a uma criança.

Quando um banco quebra e o Banco Central (BC) o socorre, as críticas pululam. O banco é uma instituição que faz intermediação financeira, ou seja, capta depósitos de pessoas e empresas e faz empréstimos a pessoas, empresas e governos. Em geral, de tudo o que um banco empresta, menos de 10% é capital do banqueiro. O resto vem dos depósitos do público. Se o banco quebra, mais de 90% da perda é de quem depositou seu dinheiro lá. Ademais, bancos trabalham sob concessão estatal e normas baixadas pelo governo, a fiscalização é feita pelo BC e existe o Fundo Garantidor de Depósito, destinado a reembolsar os depositantes em caso de quebra bancária.

Banqueiros são vistos como gananciosos. Mas eles não diferem das pessoas, pois estas, quando depositam dinheiro no banco ou aplicam suas reservas, também querem receber a maior taxa de juros possível, e isso é normal; porquanto, o juro é a recompensa pela renúncia ao consumo presente em favor do consumo futuro.

Poder-se-ia argumentar que o banco paga 11% ao ano por minha poupança e cobra 40% de meu vizinho no financiamento de uma geladeira. Ocorre que, no cálculo da taxa de juros bancários, entram pelo menos cinco fatores: a taxa juro paga ao poupador, os custos administrativos do banco, a inadimplência de parte dos devedores, os tributos cobrados pelo governo e o lucro bancário. Quanto aos lucros dos bancos, fonte de críticas, existe a crença de que eles são astronômicos. São altos, sim, mas cabem ressalvas.

O lucro de uma empresa deve ser comparado com o capital investido pelos acionistas. Nesse sentido, os lucros bancários relativos não são muito diferentes das empresas saudáveis de tamanho equivalente. E uma economia saudável exige um sistema financeiro forte e lucrativo. Mas a crença no inverso é um monstro cujos escombros, no Brasil, tornaram-se irremovíveis.
.

Antessala do desemprego

CORREIO BRAZILIENSE  

A verdade dos fatos volta a avisar que a economia brasileira vai muito mal. O Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,6% no segundo trimestre, derrubando previsões cor-de-rosa que o governo insistia em fazer ante o mau resultado (crescimento de 0,2%) dos três primeiros meses. Até então, o país estaria em trajetória de crescimento, ainda que lento. Era esse o discurso, mas nem isso se sustentou: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo, revisou para -0,2% a taxa.
Essa revisão é normal e tecnicamente recomendável. Dela resultou que a economia brasileira, que nos últimos três anos vinha desacelerando, está há seis meses andando para trás. A esta altura, é ocioso discutir se estamos ou não em recessão técnica (quando a taxa de crescimento é negativa por dois trimestres seguidos). O que importa é que, mesmo que haja algum refresco no terceiro e no quarto trimestres, 2014 está fadado a fechar um ciclo de quatro anos de baixo desempenho econômico.

No trimestre encerrado em junho, os feriados da Copa do Mundo e supostos respingos da crise mundial estão sendo culpados pelo desastre. É certamente um exagero de quem não pretende, por motivos de calendário eleitoral, reconhecer erros de condução da política econômica, que se acumularam nos últimos anos. Mais sensato e mais construtivo será encarar o problema e buscar coesão para corrigir o rumo e inverter a escalada que põe em risco os empregos e a renda, conquistas que precisam ser mantidas.

Olhar mais crítico sobre os números do trimestre constata mais uma queda na atividade da indústria, que recuou 1,5%, ampliando o já longo ciclo de perdas de competitividade do setor. Além de grande geradora de empregos formais, a indústria é tradicional investidora em expansão e em modernização de equipamentos.

Mas não é isso o que vem ocorrendo: os investimentos, que deveriam ser um dos motores do crescimento do PIB, recuaram 5,3% no trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Pior: na comparação com igual período de 2013, a queda foi 11,3%. Isso revela o nível da desconfiança da indústria numa reação da economia brasileira e na capacidade do governo de criar as condições para a retomada do crescimento em prazo razoável.

Outro dado preocupante que merece reflexão foi o desempenho dos serviços. Como ocorre com a maioria das economias de nações mais urbanizadas, esse é o setor que cresce mais rápido e mais aumenta a participação relativa no PIB. No Brasil, enquanto a indústria vem perdendo espaço (responde hoje por pouco mais de 16% da economia), a expansão dos serviços garantiu participação próxima de 70%. No segundo trimestre, o despenho dos serviços foi negativo em 0,5%, o pior desempenho desde o auge da crise mundial de 2008 (-2,8%).

Parte do recuo pode ter sido um dos efeitos perversos da Copa. Só parte. É relevante lembrar que se trata de atividade diretamente ligada ao aumento da renda da população. Nele estão as faculdades e colégios particulares, os restaurantes, o entretenimento, os cuidados com a saúde e com a beleza, para citar algumas demandas, que, não faz muito tempo, passaram a fazer parte da vida de milhões de consumidores. Será imperdoável perder tudo isso por omissão ou incapacidade de conduzir política econômica que favoreça o crescimento.
.

Riscos do uso do Estado para a reeleição

EDITORIAL O GLOBO


Convocar secretários dos ministérios para se empenhar na campanha da presidente é ato de assustador patrimonialismo e de espantosa ousadia, mesmo no PT

Em uma democracia longeva e sólida como a americana, o presidente pode se candidatar à reeleição e manter-se na Casa Branca, sem patrocinar escândalos sobre o uso da máquina do Estado na campanha. Não apenas há uma arraigada cultura de obediência às regras do jogo, como os desvios são punidos sem tergiversações.

O Brasil fez bem ao copiar o modelo americano de dois mandatos consecutivos de quatro anos cada. Na prática, é como se fosse um mandato possível de oito anos, com a chance de interrupção, à vontade do eleitor, passados os quatro primeiros.

Campanha com candidato no Planalto e no Alvorada, porém, tem criado, nos últimos tempos, várias situações em que a oposição recorre à Justiça Eleitoral, com denúncias do uso de prerrogativas do cargo de presidente com fins eleitorais.

Na reeleição de Lula, em 2006, foi notória a antecipação da campanha pelo presidente. O mesmo ocorreu na candidatura de Dilma Rousseff, em 2010, e desvios se repetem em 2014. Registrem-se, por exemplo, discutíveis convocações de rede nacional para pronunciamentos oficiais de suposto interesse geral, mas que eram, na verdade, atos de cunho eleitoral.

O chamado “efeito Marina”, deflagrado com a morte de Eduardo Campos e a passagem para a cabeça da chapa do PSB da idealizadora da Rede, abala, como era previsível, as candidaturas de Dilma e Aécio Neves. Cada um deles terá de reagir à ameaça representada por Marina Silva, por óbvio. O perigo está na forma como a candidata à reeleição e seu partido, o PT, tratarão de combater a candidata do PSB. E as primeiras notícias sobre movimentações na campanha petista são preocupantes.

Logo na noite do primeiro debate, na Bandeirantes, terça-feira, já conhecida a pesquisa do Ibope em que o destaque foi Marina, a coordenação da campanha de Dilma fez a descabida convocação de uma reunião com secretários executivos e secretários nacionais dos ministérios, para pedir-lhes empenho no apoio ao projeto da reeleição.

Há, nisso, um gritante desvio de função, o indiscutível uso de funções públicas no trabalho privado a favor de uma campanha política. Não importa se da presidente da República. Ela é tão candidata quanto todos, e nenhum pode ter privilégios.

O encontro foi conduzido por Cezar Alvarez, responsável pela articulação da campanha com estados e municípios, e dele participou até o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência.

Os secretários em geral tocam o cotidiano dos ministérios. Convertê-los em cabos eleitorais é transferir parte da máquina pública para o palanque de Dilma, estridente crime eleitoral e ato de assustador patrimonialismo.

É conhecida a prática aparelhista do PT, a sua capacidade de se infiltrar no Estado. Mas esta manobra, embora não surpreenda, é de espantosa ousadia.
.

À margem da campanha eleitoral

EVERARDO MACIEL
O ESTADÃO  

A campanha eleitoral deste ano já nos permite extrair algumas ilações: o modelo de propaganda eleitoral, que torna caras as campanhas e faz a fortuna dos marqueteiros, parece esgotado, pois a população já não atura mais clichês, truísmos, excentricidades, rimas pobres e discursos vazios; a democracia não pode conviver com uma miríade de partidos políticos (32) constituídos quase sempre com o objetivo de angariar recursos do Fundo Partidário e de negociar tempo para a propaganda eleitoral, e registrados no pouco plausível pressuposto de que receberam o apoiamento mínimo (hoje, 491.656 eleitores, com registro em pelo menos 9 unidades federativas, contando em cada uma delas com o apoio correspondente a, no mínimo, 0,5% dos votos válidos na última eleição para a Câmara dos Deputados). Também a qualidade da maioria dos candidatos é deplorável, além dos apelidos ridículos e da imprópria referência à atividade profissional ou à confissão religiosa do candidato.

As preferências nos pleitos majoritários têm sido formadas a partir de matérias, inclusive debates, veiculadas pela mídia, discussões nas redes sociais e uma espécie de sentimento difuso que perpassa a sociedade, correspondendo a uma insatisfação generalizada, ainda que não tão recente, com a política, os serviços públicos e a economia.

Não temos a tradição de realizar discussões substantivas sobre temas que interessam à sociedade, à exceção de algumas iniciativas patrocinadas por grupos organizados.

É certo que seria difícil de tratar alguns temas durante a campanha eleitoral, em virtude de sua complexidade ou delicada sensibilidade, a exemplo das questões decorrentes do mal assimilado processo de urbanização no Brasil e dos problemas de uma juventude massacrada por apelos consumistas e hedonistas.

O Brasil, em cinco décadas, deixou de ser majoritariamente rural para converter-se num país francamente urbano, com 85% de sua população residindo nas cidades. A despeito disso, continuamos a cultuar a agenda caduca da reforma agrária, em franco contraste com o sucesso de um agronegócio altamente tecnológico e competitivo.

A intensa urbanização gerou deseconomias de aglomeração, traduzidas pela precariedade da mobilidade urbana e do saneamento, e mal atendidas demandas por serviços públicos de educação e saúde.

Essas questões jamais poderão ser resolvidas com a atual estrutura federativa. É preciso conceber uma nova forma de repartição dos encargos públicos e articulação intergovernamental. Para tal, é necessário investir em modelos de cooperação e construir paradigmas que possam ser replicados. Certamente, esse caminho não passa pela distribuição de recursos por meio de emendas parlamentares e ministérios das cidades ou equivalentes.

Impressiona muito a desatenção com a juventude. Segundo o IBGE, 1 em cada 5 jovens de 15 a 29 anos nem estuda nem trabalha. São os nem-nem, sem presente e, talvez, sem futuro.

A tragédia das drogas não é suficientemente discutida e muito menos cuidada. Qualquer pessoa provida de mínima sensibilidade fica perplexa com as "cracolândias" de São Paulo.

Uns defendem a liberalização do consumo da maconha, no propósito de enfraquecer o tráfico, esquecendo que existem outras drogas. Outros postulam, mais ousadamente, a liberalização de todas as drogas, confiando em que os traficantes ingressarão num programa de ressocialização ou na vida monástica. Há, ainda, os que entendem que a formalização do mercado de drogas geraria receitas tributárias. Estes desconhecem os fenômenos da sonegação, do contrabando e do descaminho, sem falar de uma improvável e patética discussão, no Conselho de Política Fazendária, sobre a alíquota efetiva e a substituição tributária aplicáveis às drogas.

É óbvio que não se deve criminalizar o consumo de drogas. O País carece, entretanto, de uma política pública de drogas que propicie tratamento digno ao usuário e prevenção do uso.

.

Ainda sobre a verdade no debate público

ARMINIO FRAGA
FOLHA DE SP 


Ninguém tem o monopólio da indignação e do repúdio à pobreza e à desigualdade. Nada justifica o descuido com os fatos no debate público

Estamos em época de debate. Como mencionado em meu artigo "Mitos do PT", publicado na quinta-feira (28/8) nesta página, alguns simpatizantes daquele partido insistem em distorcer os fatos. Um perfeito exemplo surge no artigo desta última segunda-feira (1º), de Jorge Mattoso e Pedro Rossi, no qual manipulam duas frases minhas e erram, propositalmente ou não, sobre um dado público e fundamental. Não por acaso, essas criações são pilares da argumentação dos autores.

Os autores põem duas vezes entre aspas que acusei o governo de "preconceito ideológico com o investimento", quando escrevi que "falta investimento (no Brasil), vítima de preconceitos ideológicos e má gestão". Trata-se de tema de artigos e entrevistas que concedi ao longo de quatro anos.

Registre-se aqui também meu protesto contra outras aspas indevidas com que me brindou recentemente a deputada Margarida Salomão do PT em uma rede social. Ela pôs em minha boca que "o salário mínimo subiu demais", quando eu disse, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" que tinha subido "muito". Sutil talvez, mas bem diferente. Essa mesma frase é convenientemente repetida pelos autores citados acima em seu artigo, demonstrando um padrão de desonestidade ou, no mínimo, de descuido.

Ainda sobre o investimento, constatei apenas que os resultados foram pífios, pois permanece deprimido como porcentagem do PIB. Não há preconceito ideológico contra o investimento, apenas contra o mercado, e incompetência em mobilizá-lo. O governo mascara seu fracasso quando a candidata oficial lista com valores inúmeros investimentos e programas, sem registrar que no agregado foi pouco. Equivale a dizer que fez dois gols e omitir que levou cinco. A propósito, cabe registrar que, de acordo com o IBGE, a taxa de investimento em 2013 foi de 17,9% do PIB, e não de 20,9%, como publicado no artigo dos autores (chegando hoje a 16,5% do PIB).

Os autores prosseguem cobrando uma série de respostas a perguntas que, para um leitor desavisado, podem dar a impressão de que tudo vai bem na economia, e que nós somos uma ameaça, uma certa cara de pau dado que a economia está em recessão, inclusive com perda de emprego na indústria.

Uma dessas perguntas liga a falsa referência aos salários à nossa postura quanto à distribuição de renda no Brasil. Aqui faltou reconhecerem os ganhos sociais do fim da hiperinflação e os ganhos de produtividade das muitas reformas de FHC, da mesma maneira que nós reconhecemos o mérito de Lula ao turbinar os programas sociais (alguns criados por FHC) e preservar em seu primeiro mandato os fundamentos da estabilidade macroeconômica e a agenda de reformas.

No campo da distribuição e igualdade de oportunidade, além de continuar com bons programas como o Bolsa Família, pretendemos se nos for dada a chance focar na qualidade da educação, saúde, transportes e segurança públicos. Pretendemos também eliminar ao longo do tempo a parte injustificada das medidas de proteção, subsídio e desoneração voltadas a empresas (o chamado bolsa empresário do atual governo) e direcionar esses recursos para programas de maior retorno social, com relevantes benefícios distributivos.

Nem tudo deu errado no âmbito da economia durante os anos do PT no poder, mas o modelo de Dilma nos deixou mal parados, precisando urgentemente de uma correção de rumo. No mais, sigo enjoado com a maneira desonesta pela qual pessoas como Mattoso e Rossi se colocam. Ninguém tem o monopólio da indignação e do repúdio à pobreza e à desigualdade. Nada justifica o descuido com as palavras e os fatos no debate público.
.

GEOMAPS


celulares

ClustMaps