quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A ausência de valores e os seus resultados

A sociedade está confusa mais mais absoluta perda de referenciais éticos confiáveis.
É o resultado de um paulatino construto ideológico gramscista que serviu de base para a ascenção do PT ao poder nos últimos trinta anos.


A ausência de valores e os seus resultados
CLÁUDIO SLAVIERO
GAZETA DO POVO - PR


Estamos no 11º ano da era lulopetista e nunca antes na história deste país vimos uma crise tão generalizada. Crise de valores, de falta de postura cidadã e de respeito, aliada à falta de rumos do governo. A arte de mentir e de negar virou algo corriqueiro e banal, assim como a mania de desrespeitar. O exemplo que “vem de cima” espalhou-se pirâmide social abaixo. A presidente Dilma, que deveria ser o símbolo da moralidade, civilidade e do princípio democrático, perdeu-se no vazio de ideias e no vácuo de direção. Seus ministros e líderes no parlamento seguem-na feito papagaios na maioria das oportunidades e especialmente quando ela, defendendo o seu partido, o PT, chama a oposição de “cara de pau” onde quer que esta pareça existir. Tanto ela quanto seus seguidores manifestam-se grosseiros, onipotentes, desrespeitosos.

Foi assim, recentemente, quando o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, ao comentar o descontentamento do setor empresarial, que deixa claro que o clima de desconfiança é cada vez maior, resultando em taxas de investimentos muito baixas, desdenhou: “Empresário fazendo beicinho não dá”. Ele respondia a Pedro Passos, industrial, fundador da indústria de cosméticos Natura e presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), entidade que reúne alguns dos maiores industriais do Brasil.

Não só os empresários estão descontentes, ministro, mas todos que tenham o mínimo de consciência do que esses 11 anos de lulopetismo fizeram ao país e o que representam para o futuro da nação. Vivemos no país do apagão. Mas não só no apagão da ex-ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff, que, com medidas demagógicas, prejudicou as empresas do setor, que deixaram de investir, não aumentando sua capacidade, preparando-se para o aumento de consumo. Pior que o apagão de energia é que vivemos o apagão de ideias, de credibilidade, de transparência, de competência e de honestidade. O próprio Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, criado na primeira gestão de Lula e que tinha a participação de empresários como Jorge Gerdau, acabou se esfumaçando por falta de confiança do empresariado no governo.

Quando o ministro Paulo Bernardo fala em “beicinho” dos empresários, o faz porque não é dele o capital investido nas empresas, não é ele que recolhe impostos (só em 2014 já foram pagos quase R$ 300 bilhões; em 2013 o total foi de R$ 1,7 trilhão), não é ele que dá empregos, gera e distribui renda, promovendo o desenvolvimento. Sua manifestação (que é própria dos seus chefes Lula e Dilma) é no mínimo desrespeitosa com quem efetivamente está preocupado com a situação das empresas (em 2013, as unidades industriais brasileiras tiveram uma redução de 1,1%, com o mesmo recuo no emprego) e sua importância no perfil de nosso país. As vendas no varejo em 2013, mesmo com alta de 4,3%, segundo o IBGE, foram as menores em dez anos – em 2003, houve queda de 3,67%. Mesmo com a redução do IPI para automóveis, as vendas neste segmento tiveram alta de apenas 1,4% em 2013 ante um aumento de 7,3% em 2012. O setor teve o pior resultado em 2013 desde 2003, quando o volume vendido caiu 7,2%. Com menor geração de postos de trabalho, menor crescimento de renda e menor concessão de crédito, o setor de serviços em 2013 também amargou redução: houve um crescimento nominal de 8,5%, ante uma evolução de 10% em 2012, segundo o mesmo IBGE. São exemplos.

Sim, ministro, os empresários demonstram falta de confiança. E o governo, o que faz para merecê-la, para fomentar o crescimento? Há estímulos para a indústria, além de, ironicamente, aumentos em alíquotas de impostos, substituições tarifárias e outros ônus? Há obras de infraestrutura concretamente realizadas, além das já famosas em discursos? Há estradas e portos equipados para exportamos nossa safra e produtos industrializados? A inflação está sob controle ou é conversa fiada do ministro Mantega? A burocracia diminuiu e a eficiência aumentou? Os monstruosos gastos com a máquina pública foram reduzidos? Nossa política externa evoluiu ou não passamos realmente de uma nação considerada “frágil”, ao lado da Turquia, Índia, Indonésia e África do Sul, que têm fundamentos econômicos tão debilitados quanto os nossos? Temos algum horizonte econômico e social internacional, além da piada do Mercosul e dos hermanos Cuba, Venezuela e outros?

O ambiente de desconfiança e de insegurança não foi criado pelos empresários, ministro, mas sim pelo seu governo, que vive dando “beiçada”, como se diz na linguagem popular, no país. E os resultados são concretos: quando a presidente Dilma se elegeu, a perspectiva era de que houvesse um crescimento do PIB de 5,9% na média anual. Ao fim desses tristes anos, o crescimento do PIB deve ser de 2% ao ano.
.

O gargalo do ensino médio

Urge que a sociedade assuma seu papel na governança madura e responsável e não terceirize a Educação a representantes na área de ensino, eivados de endoutrinamento ideológico. 
A sociedade carece de profissionais bem formados e de forma isenta e o apagão de mão de obra está aí nos agredindo diariamente com baixa qualidade nos produtos e serviços.

O  gargalo do ensino médio
CORREIO BRAZILIENSE

A aferição do desenvolvimento da educação no Brasil não para de revelar deficiências. O país tem tido, pelo menos, o mérito de manter e aperfeiçoar vários processos de avaliação tanto das escolas quanto dos alunos. Melhor assim, pois desconhecer ou quebrar o termômetro não ajuda a baixar a febre e muito menos a tratar a doença.
O gargalo do ensino médio é velho conhecido dos estudiosos. A má notícia é que ele continua pouco atraente e, em muitos casos, ainda inalcançável para uma multidão de jovens. O fenômeno ocorre em época de elevado nível de emprego e incremento da oferta de oportunidades de realização profissional. Nem o natural apelo que a oferta deveria significar para a faixa etária dos 15 aos 17 anos tem servido de motivação.

O Censo da Educação Básica de 2013, divulgado terça-feira pelo Ministério da Educação (MEC), revelou dado preocupante. Houve queda em vez de aumento do número de matrículas entre 2012 e 2013. Esperava-se salto no percentual de ingressos porque não houve decréscimo da população nessa faixa etária.

Em 2013, segundo o censo, 8,312 milhões de alunos estavam matriculados no ensino médio em todo o país. É o pior resultado em cinco anos. Em relação a 2012, a redução foi de 0,7%. O índice parece baixo, mas é inquietante: revela que cerca de 1,5 milhão de jovens, que deveriam estar frequentando as salas de aula, estão fora da escola. Deixaram, por algum motivo, de dar prosseguimento aos estudos, com evidente perda do enorme potencial de trabalho, criatividade e inovação que representam para um país em crescimento.

O dado alentador do censo, que pode oferecer alguma luz sobre o que fazer para garantir a retomada do crescimento das matrículas no nível médio, é que os esforços do poder público e de instituições mantidas pela iniciativa privada na ampliação da oferta de vagas no ensino profissional têm conseguido bons resultados. O número de matriculados em escolas de formação técnica mais que triplicou em cinco anos. Passou de 780,1 mil alunos para 2,44 milhões em 2013. Em relação a 2012, em vez de queda, houve crescimento de 5,7%.

Orgulhoso de ter avançado na universalização do ensino fundamental, o país precisa atacar o quanto antes o atoleiro que paralisa a trajetória dos rapazes e moças, impedindo-os de ultrapassar o nono ano de atividade escolar. Entre as desvantagens do Brasil nos rankings de competitividade, pesquisas internacionais apontam a baixa escolaridade, medida em anos de estudo.

Bom começo seria aprovação do Plano Nacional de Educação, projeto que se arrasta no Congresso Nacional, em boa parte porque o governo tem travado a aplicação obrigatória de verbas públicas equivalentes a 10% do PIB no setor, independentemente das incertezas do sucesso da exploração do pré-sal. É hora de o Brasil levar a sério a prioridade que os governantes dizem conceder à educação.
.

O guardião de Havana

O presente artigo é uma ótima reflexão sobre os negócios em Cuba ocorridos à revelia e autorização de nosso Congresso. 
Ocorre, sobretudo, por culpa de uma sociedade avessa a cumprir sua responsabilidade na governança da coisa pública.
Vale a leitura.

O guardião de Havana 
DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO

Qual é a motivação do governo de Dilma Rousseff para rebaixar-se à condição de eco dos sucessores de Hugo Chávez?


Quem escreveu aquele comunicado vergonhoso? “Os Estados Partes do Mercosul (...) rechaçam as ações criminosas dos grupos violentos que querem disseminar a intolerância e o ódio na República Bolivariana da Venezuela”, “expressam sua mais firme rejeição às ameaças de ruptura da ordem democrática” e “confiam plenamente que o governo venezuelano não descansará no esforço para manter a paz e as plenas garantias de todos os cidadãos”. Essas linhas são uma cópia quase literal das declarações do governo da Venezuela. O Brasil só assinou embaixo, produzindo uma das páginas mais sombrias da história de nossa política externa. Qual é a motivação do governo de Dilma Rousseff para rebaixar-se à condição de eco dos sucessores de Hugo Chávez?

Nos tempos de Lula, tínhamos uma política externa com inflacionadas pretensões, guiada pela meta de obter um lugar no Conselho de Segurança da ONU. Falava-se na construção de uma ordem global multipolar, na ruptura da “hegemonia americana” e na reorganização Sul-Sul do comércio mundial. O chanceler Celso Amorim proclamou uma “aliança estratégica” Brasil-China. Uma vertente ultranacionalista personificada por Samuel Pinheiro Guimarães flertou com a ideia de edificação de um arsenal nuclear brasileiro. No auge do desvario, oferecemos uma cobertura à aventura nuclear iraniana. Hoje, nada restou daquela espuma: tornamo-nos, apenas, um aparelho de repetição das frases e dos gestos de Nicolás Maduro.

A política externa lulista era um castelo de areia inspirado por reminiscências do terceiro-mundismo e uma renitente nostalgia do projeto de Brasil-Potência delineado na ditadura militar. O castelo desabou sob o impacto de fracassos em série e do notório desinteresse de Dilma por qualquer coisa que aconteça fora das fronteiras nacionais. Sobrou um caroço duro de compromissos políticos e ideológicos: hoje, o Brasil define seu lugar no sistema internacional em função do imperativo da proteção dos interesses do regime castrista. Eis a chave para decifrar o comunicado do Mercosul.

O destino da “revolução bolivariana” nunca tocou nos feixes nervosos do lulopetismo. Lula assistiu, contrariado, à ascensão de Chávez como liderança concorrente na América Latina e tentou guardar distância dos rompantes antiamericanos do caudilho de Caracas. Mas a Venezuela chavista firmou uma estreita aliança com Havana e o petróleo subsidiado da PDVSA converteu-se na linha vital para a sobrevivência do Estado castrista. É por esse motivo que o Brasil firmou um comunicado no qual a oposição venezuelana aparece sob o rótulo de “grupos criminosos” engajados em promover um golpe de Estado.

Bem antes da segunda candidatura presidencial de Lula, em 1994, um editorial da revista teórica do PT qualificou a Cuba de Fidel Castro como uma ditadura indefensável. Nos anos seguintes, enquanto José Dirceu reinventava o PT como uma azeitada máquina política, Lula fazia uma opção preferencial pela ditadura cubana, rejeitando a oferta de acomodar seu partido no ônibus da social-democracia europeia. Aquelas escolhas marcam a ferro a política externa do lulopetismo. Tilden Santiago, um embaixador brasileiro em Havana, elogiou os fuzilamentos políticos promovidos pelo castrismo em 2003. No Ministério da Justiça, em 2007, Tarso Genro deu a ordem imoral de deportação dos boxeadores cubanos. Três anos depois, Lula identificou os presos políticos cubanos como criminosos comuns. É nessa trajetória que se inscreve o comunicado do Mercosul.

A Venezuela ainda não é uma ditadura, pois conserva a liberdade partidária e um sistema de sucessão baseado em eleições gerais. Contudo, já não é mais uma democracia, pois eliminou-se a independência do Judiciário, restringiu-se a liberdade de imprensa e as Forças Armadas foram submetidas ao catecismo chavista. À beira do colapso econômico, o regime enfrenta uma onda de insatisfação que se espraia da classe média para os pobres. Confrontados com manifestações de protesto, os sucessores de Chávez recorrem a intimidações, prendem sem acusações críveis um líder opositor e soltam a rédea dos “coletivos”, que operam como grupos paramilitares de choque.

O uso da força contra manifestações pacíficas foi respaldada pelo Mercosul, mas crismada como “inaceitável” até mesmo por José Vielma Mora, governador chavista do estado de Tachira, que pediu a libertação de “todos os aprisionados por razões políticas”. Até quando Dilma Rousseff emprestará o nome do Brasil à repressão “bolivariana”?

Cuba é o nome da armadilha. De um lado, sem a vasta transferência de recursos proporcionada pela Venezuela, o poder castrista enfrentaria o espectro do colapso. De outro, o governo brasileiro não dispõe das condições políticas necessárias para assumir o lugar da Venezuela. O Brasil já financia o regime dos Castro por meio de obscuros empréstimos do BNDES e das remessas de divisas associadas ao programa Mais Médicos. Entretanto, mesmo diante de uma oposição prostrada, o lulopetismo não tem como vender à nação a ideia de converter o Brasil no Tesouro de Cuba. Como produto do impasse, nossa política externa foi capturada pela crise da “revolução bolivariana”.

“A Venezuela não é a Ucrânia”, disse a primeira-dama Cilia Flores, desvelando mais um temor que uma certeza. A profundidade da crise não escapou à percepção de Heinz Dieterich, o sociólogo que cunhou a expressão “socialismo do século 21” e serviu durante anos como conselheiro ideológico de Chávez. Dieterich conclamou “uma facção” do chavismo a articular “uma aposta democrática de salvação nacional” que se coagularia num governo de coalizão com os oposicionistas moderados reunidos em torno de Henrique Capriles. Qualquer saída política pacífica exigirá um esforço de mediação internacional. O Brasil só poderá ajudar se o governo conseguir separar o interesse nacional dos interesses da ditadura castrista.
.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Mais médicos e menos improviso

Reconheço a necessidade urgente do projeto, todavia também reconheço que, historicamente, nosso orçamento da União, para 5 565 municípios nunca passa de 3% do PIB e isto nem os brasileiros, tampouco o Congresso Nacional quer encarar e mudar.

Ao menos poder-se-ia ter mais profissionalismo na gestão pública, ao menos.


Mais médicos e menos improviso 
 JOSEF BARAT
O ESTADO DE S. PAULO



No jargão dos economistas, o termo estrutural expressa algo decorrente de características essenciais ou duradouras da economia -tratando, portanto, de mudanças que delineiam o longo prazo -, enquanto o termo conjuntural é relativo a variações ou ocorrências no curto prazo. Dar soluções conjunturais a problemas de natureza estrutural, visando ao curto prazo, pode representar uma séria contradição quando se trata de formular políticas públicas.

Por outro lado, fomentar conflitos para justificar políticas de curto prazo é postura de alto risco. Portanto, não é correto insuflar a população contra os médicos brasileiros. Os hospitais públicos e postos de saúde funcionam graças à abnegação de médicos, enfermeiros e atendentes brasileiros. Mal remunerados, sem equipes de apoio e sem equipamentos, dedicam-se a dar assistência médico-hospitalar com grande sacrifício pessoal. Claro que qualqueriniciativa que vise a melhorar o alcance e os padrões de qualidade dos serviços merece aprovação. Mas, dada a extrema complexidade da saúde pública no Brasil, é necessário fazer uma avaliação isenta e objetiva do Programa Mais Médicos, sem ideologias nem reações emocionais.

É sempre oportuno lembrar que os problemas da saúde pública nas áreas desassistidas se acumulam há mais de duas décadas. Mais precisamente,desde que foram extintos, no Ministério da Saúde, o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu) ea Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), criados em 1956 e 1970. Junto com a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), essas organizações de Estado davam suporte a um corpo de médicos sanitaristas de carreira, que exerciam uma função importante com relação não só às endemias, mas também à educação sanitária em comunidades afastadas e carentes.

Foram modelares os programas que contemplaram, de forma integrada, fossas sépticas, tratamento de água e educação sanitária, entre outros. Havia, pois, uma visão estrutural para a solução dos problemas de saúde pública, mesmo considerando a carência de recursos para investimentos e operação. Infelizmente, no governo Collor essas instituições e carreiras médicas foram desmanteladas e sua experiência acumulada se dispersou. A criação da Funasa deixou muito a desejar e se perdeu a visão dos médicos sanitaristas como merecedores de uma carreira de Estado, como têm os magistrados, diplomatas e militares.

Na gestão do ministro Adib Jatene foi criado o programa Médicos de Família, de alcance extraordinário na época, pela objetividade na concepção e condições de baixo custo na sua execução. Infelizmente, esse programa - que tinha visão de mudanças no longo prazo - foi também desestruturado, seguindo a terrível maldição das políticas publicas brasileiras de fazer malograr tudo o que dá certo.

A esta altura, é preciso separar bem e sem paixão a solução tapa-buraco, pela importação de médicos sub-remune-rados e de qualificação duvidosa, do que seriam soluções sérias para cobrir de forma duradoura as deficiências dos serviços públicos de saúde, especialmente os que poderiam estar sendo prestados por médicos com carreiras de Estado estruturadas. É pertinente perguntar: 1) se os médicos cubanos terão permanência temporária, pois são impedidos de fixar residência no País, quem irá substituí-los?; 2) Se esses médicos não tiverem suporte de equipes e equipamentos, farão - só no curto prazo - o papel dos antigos médicos sanitaristas?; 3) Existe algum plano de estruturação de serviços de saúde, por meio de equipes multidisciplinares e equipamentos adequados,juntamente com a importação dos médicos?; e 4) Já se pensou em dar aos médicos brasileiros a oportunidade de uma carreira estruturada, com salários dignos e possibilidades de progressão, para alocá-los em áreas carentes, como se faz com magistrados e militares?

Infelizmente, em meio a tanta improvisação, como diria Nelson Rodrigues, o subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos...

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Em defesa da Copa do Mundo

 KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP

Além de elevar a autoestima, a Copa multiplica ganhos com turismo e serviços e gera milhares de empregos

Investimento não é gasto. Qualquer um que se aventure ao livre empreendimento --de uma carrocinha de pipoca à construção de uma hidrelétrica-- sabe disso. Gasto não tem retorno; investimento tem. Visto isso, falemos da Copa do Mundo.

Está em curso uma campanha nacional contra sua realização, o que, além de equívoco do ponto de vista econômico, é uma leviandade política e social. Busca-se, por essa via, atingir o governo. Mas a Copa não é do governo: é do país --e é ele o atingido.

Foi o Brasil, não o governo --embora ele lá o representasse--, quem batalhou, concorrendo com adversários do porte da Espanha e da Inglaterra, para sediar o evento. E o fez por saber de seu significado não apenas econômico mas também psicossocial.

A Copa, além de elevar a autoestima da população --que tem no futebol sua principal fonte de lazer--, multiplica, entre outros, os ganhos com turismo, serviços, construção civil e alimentação e gera milhares e milhares de empregos diretos e indiretos.

Estudo desenvolvido pela consultoria Ernst & Young, em parceria com a Fundação Getulio Vargas --"Brasil Sustentável "" Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo de 2014"--, constata que o evento já quintuplicou os investimentos diretos, injetando R$ 142,39 bilhões no período 2010-2014.

Os investimentos diretos, em infraestrutura, construção e/ou reforma de estádios e organização, são de pouco mais de R$ 22 bilhões, e boa parte deles --frise-se isso!-- privada.

Considerando os impactos em inúmeros setores interligados --alimentação, bebidas, rede hoteleira, serviços essenciais (luz, água, esgoto)--, calcula-se o ingresso adicional de R$ 112 bilhões, o que gerará, segundo esse estudo, mais de 3 milhões de empregos, impulsionando o consumo interno.

Somente no turismo, o impacto econômico da Copa das Confederações, evento de expressão bem menor, foi de R$ 740 milhões, segundo a Embratur. Mobilizou 230 mil brasileiros e 20 mil estrangeiros. Para a Copa do Mundo, a projeção, entre turistas brasileiros e estrangeiros, é que superem a casa dos 3 milhões.

Quase a totalidade das obras estava prevista por se tratar de obras estratégicas. Seriam realizadas com ou sem Copa, segundo o governo. Tudo isso ficará para além do evento.

Não obstante, os que engendram a campanha contra a Copa --e infernizam as ruas do país, com ações predadoras, a pretexto de manifestações democráticas-- partem de uma argumentação desonesta, que só exibe os investimen- tos (apresentando-os, claro, como gastos) e insuflam a população a protestar.

O discurso socialista, que supõe possível banir a pobreza sem gerar riqueza, sonha com um Estado provedor, sem atentar para o dado elementar de que, para prover, é preciso ter recursos. E o Estado não gera recursos; capta-os da sociedade, que, por sua vez, para gerá-los, precisa de empreendimentos que gerem riqueza. E a Copa, como está mais do que demonstrado, assim o faz.

Pesquisa do Datafolha constata que 63% dos brasileiros, apesar da implacável campanha anti-Copa, são favoráveis à sua realização no Brasil. Apenas 21% são contra. Esses percentuais seriam bem mais expressivos se os números que expus fossem do conhecimento do público. Infelizmente, não são. Não por falta de dedicação e competência do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, mas por uma inexplicá- vel falha de comunicação do governo e da Fifa.

Compartilho da perplexidade do escritor Marcelo Rubens Paiva, que, há dias, perguntou: "Não vai ter Copa no país que mais Copas ganhou? O único que esteve em todas as Copas e chegou a sete finais? É como se os franceses organizassem o movimento social "pas de baguette" (nada de baguete); e os americanos, no "turkey on thanksgiving" (sem peru no dia de Ação de Graças)".

Ou seja, nada mais surrealista que o País do Futebol rejeitá-lo, em nome de argumentos desonestos, que transformam lucros em perdas, e oportunidade --força motriz dos grandes negócios--, em desperdício. Não há dúvida: quem assim age, por ignorância ou má-fé (ou ambas), incide em crime de lesa-pátria.
.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Is Your Culture Too Nice?




Do you avoid conflict? If you do, you’re not alone. Conflict avoidance is one of the most common characteristics of corporate cultures. At the same time it is one of the most pernicious and dangerous sources of unintentional complexity in organizational life.

The tendency to avoid conflict — albeit inconvenient — is very human. Most people want to be liked and unconsciously fear that arguments, disagreements, or negative messages will create tension with people they interact with on a day-to-day basis. Compounded with the environmental pressure to respect authority and the organizational stress on teamwork, this creates a great deal of anxiety around stirring up trouble.

Given these psychological and cultural forces, it’s no wonder that so many managers — from CEOs to shift supervisors — avoid conflict. Unfortunately this avoidance creates disconnects between business units, unnecessary revisions in project plans, and lower standards of performance — all of which complicate organizational life.

Not long ago I worked with a well-known company that was struggling to grow in a difficult market. In talking with the executive team it was clear that each of the product divisions had put a lot of time into their growth plans — but they had spent little time aligning the plans with each other. As a result, R&D was uncertain about how to prioritize its projects, and centralized marketing dollars were spread around like peanut butter. There also were too many IT projects, most of which were under-resourced, and the sales force lacked focus. When I asked why the plans had not been better integrated, the excuse was that separate functions were expected to work it out amongst themselves. But in these “nice” cultures where people don’t regularly ask the tough questions, “working it out” never happens.

This kind of conflict avoidance is not only prevalent in large-scale strategic discussions, but in day-to-day office interactions. We’ve all made decisions in meetings only to be undone later when a silent dissenter is found to disagree. And how many times have we heard about an employee jarred by a poor performance rating, simply because her boss had never given her honest feedback? One such conflict-avoiding company even asks project teams to run stakeholder “acceptance analyses” throughout the course of a project, in the hope that eventually everyone will get on board and the senior manager won’t have to directly tell anyone to cooperate.

There is no easy formula for learning how to engage more effectively in constructive conflict. But here are three suggestions that may help you move in that direction:

1. Reflect. Look at yourself in the mirror and give yourself an honest appraisal of your readiness to challenge, give bad news, or otherwise create a degree of conflict. Can you think of situations where you should have spoken up but didn’t, or where you tempered your words too much? Are there any particular types of conflict you avoid more than others, such as pushing back on authority?

2. Get feedback. Talk to friends, family, or colleagues. What is their perception of your willingness to engage in conflict, and your ability to do it constructively? Ask them about specific situations or patterns that they might see but are not obvious to you.

3. Correct the problem — gradually. Do some experimenting, particularly in the areas that are habitually difficult for you. Try pushing back on a request from your boss that doesn’t make sense. Speak up in a project meeting when you don’t agree. Give someone feedback that you’ve been withholding. No matter what you do, start the conversation by saying that you are trying to get better at dealing with conflict situations, and that you hope this comes across constructively. This way, you will position yourself as speaking honestly and trying to learn — and not just picking a fight. Hopefully this will reduce your anxiety (and that of your audience), which will allow both of you to make the conflict more constructive.

What’s your experience with avoiding conflict?

Ron Ashkenas is a managing partner of Schaffer Consulting. He is a co-author of The GE Work-Out and The Boundaryless Organization. His latest book is Simply Effective.
.

How to Deal With a Passive-Aggressive Peer





You’re at the weekly team meeting. Everyone around the table vigorously nods their heads and agrees to a series of action steps. Meeting ends. Three days later, you find out that one of your peers must have blacked out during the head nodding — because he went off and did his own thing. And it’s not the first time he’s done this… it happens over and over again. Welcome to the passive-aggressive peer club.

What is the meaning of the paradoxical term passive aggression, all too often loosely used to describe fellow co-workers (and relatives, too, but that’s a whole other blog post not befitting of HBR)? According to the National Institutes of Health, a passive aggressive condition is one in which a person seems to actively comply with the desires and needs of others, but actually passively resists them. The NIH goes on to explain that a passive-aggressive person may appear to comply with another’s wishes and may even demonstrate enthusiasm for those wishes. However, (ominous music here) the person will tend to perform the requested action too late to be helpful or in a way that is useless or straight up sabotages the action to show anger that he cannot express in words. We’ve seen our share of passive-aggressive peers in our work lifetime. How about you?

Enough with the diagnosis and let’s get to the good stuff. After all, you’ve got a job to do, results to deliver, and an organization to run. How do you deal with the passive-aggressive peer in your life without losing it? This type of behavior can derail your efforts to get results. And, the fact that this person is a peer makes it more challenging because you have to influence without authority. Before we explore some coping strategies, we are going to assume that you’ve already tried giving your peer effective feedback and it hasn’t worked. If you haven’t given him feedback, start there. Tell him what you observe and the impact it’s having and give him suggestions as to how he can approach the situation differently. If feedback works, fantastic. If not, here are a few other things you can focus on to help minimize the noise this relationship causes:

1. Focus on the Problem, not the Person
Be honest with yourself. Has your past experience with your passive-aggressive peer negatively tinted every interaction you have with him? If so, recognize that this may be contributing to the difficulty of the relationship. Stop focusing on his personality and everything that bothers you about it. You can not force him to change. What you can do is focus on how to achieve the actual work issue at hand despite your peer’s style. This will help you move forward instead of pining over a more ideal situation. Wishful thinking that your peer will see the light and change overnight is fruitless.

2. Don’t Take it Personally
This is a simple one: stop thinking it’s all about you. The chances that your peer is passive aggressive with other team members is high. But don’t take our word for it. Observe him in action (or lack thereof) with others. What do you notice? You’ll probably see that he behaves the same way with them (i.e., says the presentation looks fine and then completely reworks it at the last minute). If this looks familiar and his behavior is pervasive with others and not just you, stop taking it personally. This step alone can relieve some of the personal toll you take from dealing with this individual. You need all the energy you can fathom as a leader — don’t waste one ounce of it trying to figure out why he acts this way with you.

3. Focus on Follow Through
Remember that you sit on a team — not alone in a silo. Use the strength that lies in your team to deal with your peer. We’re not suggesting that you gang up on him! Rather, have teammates confirm expectations. For example, if you’re in a meeting discussing next steps, make sure everyone articulates what they heard and verbally communicates what they commit to in specific terms (not just head nodding). This will accomplish two things: (1) your peer will have to openly declare his commitment to follow through and (2) the rest of the team will expect follow through. Ensure there are ways to solidify expectation setting and follow through across the team.

Practice these steps. They may not completely remedy your peer’s approach but they certainly will help buffer some of the noise this situation is causing. What’s been your experience in dealing with passive-aggressive peers? What strategies have you used to deal with the situation?

Amy Jen Su and Muriel Maignan Wilkins are co-founders and managing partners of Isis Associates, a boutique executive coaching and leadership development firm.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Desastres e cavalos de batalha

ROBERTO DAMATTA
O GLOBO


Por que, então, eu devo obedecer se quem é importante não obedece; e a regra geral não é a transparência, mas é ter dois pesos e duas medidas?


A semana passada foi marcada por três eventos especiais.

O primeiro e o que mais nos consternou foi o desastre na Linha Amarela, no Rio de Janeiro, onde um caminhão com a carroceria levantada e trafegando em horário não permitido destruiu uma passarela, causando cinco mortes.

O segundo foi o cavalo de batalha criado pela escala semissecreta da presidente da República em Lisboa, Portugal, depois de sua estada em Davos, Suíça; antes de sua momentosa visita a Cuba.

E o terceiro, o de maiores implicações no campo das rotinas financeiras e políticas, foi o anúncio da promulgação da lei que vai punir as ilegalidades cometidas por empresas, tomando-as como pessoas jurídicas. Punindo a empresa como um todo, o que na prática significa a impossibilidade de se assistir à costumeira culpabilização dos funcionários miúdos como bodes expiatórios. Ademais, a lei explicita vultosas penalidades monetárias, além das criminais, à empresa. Torço que ela pegue, pois, se assim ocorrer, ela vai ser um instrumento importante para controlar a corrupção.

A ligar esses eventos eu vejo atitudes rotineiras — aquelas coisas que fazemos sem pensar.

Comecemos com o caso da passarela.

A fiscalização obviamente aumentou. Mas será que mais fiscalização resolve? O problema do espaço público no Brasil é saber se precisamos de mais leis ou de mais educação relativamente a essas leis. Em outras palavras, ao lado de uma de fiscalização eficiente, é preciso que as leis sejam colocadas dentro de cada um dos cidadãos — tanto dos usuários quanto das autoridades e administradores. É esse tipo de educação igualitária que nos falta. Ela tem a ver com o debate entre o modo pelo qual uma nova lei vai conviver com velhos hábitos. Fiscais e policiais são, é claro, fundamentais, mas é preciso ir além deles. Sem tal movimento é quase certo que a lei “não pega” — ou seja: ela vai ser fatalmente canibalizada e neutralizada pelos velhos hábitos.

Para não ser multado, o sujeito faz um desvio e acaba causando um acidente. A “bandalha” revela uma propensão ao risco típica, como revelo no meu livro “Fé em Deus e pé na tábua”, do modo de dirigir e de usar o espaço público no Brasil. O eufemismo minimiza o delito ao mesmo tempo que desculpa usuários faltosos e autoridades lenientes e irresponsáveis. Todo tipo de motivação pessoal suspende o bom senso e as normas que dele derivam, mas que o motorista e o pedestre ignoram ou não internalizam. Todo mundo tem consciência de que as “autoridades” usam o “você sabe com quem está falando” e são autoridades precisamente porque ficam acima da lei e do bom senso. Por que, então, eu devo obedecer se quem é importante não obedece; e a regra geral não é a transparência, mas é ter dois pesos e duas medidas? Uma para os nós e outra para os outros?

Eu estava num elevador lotado. Na parada no 7º andar, cinco ou seis pessoas vão entrando indiferentes a quem estava no veiculo. Com um sorriso despreocupado um deles diz: “Entra, sempre cabe mais um...” Fomos diretos para o fosso. Uma senhora gritou muito e eu entrei em pânico.

Vou abastecer e o frentista fuma tranquilamente segurando a bomba de gasolina. Apavorado, eu menciono o fato e mostro a placa onde lemos: “Proibido fumar”. “Não tem nada não”, diz o frentista, me olhando como se olha para o policial ou o fiscal. “Eu estou acostumado”.

Tentei dar uma aula de segurança. Se persistisse, acabaria brigando.

Vou ao banco e nos caixas eletrônicos destinados aos idosos, deficientes e grávidas encontro uma jovem pagando um maço de contas. Cruzo os braços e, p. da vida, espero. Mas não digo nada porque reclamar é feio e eu não quero criar caso. Foi assim que me ensinaram e ensinaram aos que me ensinaram e ensinaram aos que ensinaram aos que me ensinaram.

Troquei um automóvel por outro na mesma agência e com o mesmo vendedor. Ele, porém, não fez a transferência da propriedade do veículo para a empresa. Comecei a receber multas, pois o carro continuava sendo meu. Reclamei várias vezes. Afinal processei a agência e fui ao tribunal. Lá, o acusado não era a empresa, mas o vendedor, que havia sido despedido. O magistrado mandou que me pagassem R$ 1.200. Eu me senti injustiçado. Espero que isso mude com a nova lei.

Vamos seguir para Lisboa. Lá abastecemos e, em seguida, voamos para Cuba. Alguém assim decidiu, diz o meu lado ignorante das regras de segurança nacional.

Quando a presidente diz que ela própria paga seus jantares e não usa cartão corporativo, um outro lado meu pergunta: não seria o caso de suprimir esses cartões em nome desta ética de austeridade?

Como cidadão eu não me importo que os governantes do meu país tenham apoio “oficial” quando desempenham seus papéis públicos. O que me deixa incomodado é descobrir que a Presidência da República não atina com as implicações do seu papel. Vai que o avião — valha-nos Deus! — cai! Num mundo monitorado, o segredo, como o perigo calculado ou a propensão ao risco, é inútil e perigoso. Lembra aquela piada de uma certa polícia secreta que era sempre descoberta porque vestia farda.

Crise permanente

ILDO SAUER
FOLHA DE SP 

ILDO SAUER, doutor pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), é professor titular e diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP. Foi diretor da Petrobras (2003-2007)

Explosão tarifária e riscos de desabastecimento de energia decorrem de escolhas equivocadas para promover a expansão da oferta

A proposta eleitoral vencedora em 2002 propunha profundas mudanças na estrutura de organização e gestão do setor elétrico, como resposta ao racionamento de 2001: planejamento, com a caracterização dos recursos para expansão da produção e de racionalização do uso da energia, segundo atributos técnicos, econômicos, ambientais e sociais.

O portfólio seria desenvolvido seguindo a ordem de mérito, com contratos de longo prazo compatíveis com o investimento, substituindo o mercado "spot", no qual o preço era formado a partir de fatores aleatórios, especialmente a hidrologia, e não por fatores de produção como capital, insumos, gestão e trabalho.

A metamorfose entre o plano de governo e a tímida reforma baixada em 2004 foi justificada pela então ministra de Minas e Energia como sendo a "construção da regulamentação" por "processo participativo, medidas negociadas, acordos entre os agentes, arbitragem do governo". Empresas estatais, consumidores, organizações sociais e especialistas independentes foram excluídos. As barganhas do modelo se tornaram acertos com a base de apoio político e econômico do novo governo.

A crise recorrente é fruto dessa metamorfose. Sem realizar o dever de casa de organizar o portfólio de recursos para otimizar a expansão, quando se esgotou o estoque de capacidade ociosa decorrente do racionamento, nos leilões de expansão, a partir de 2005, prevaleceram termoelétricas à carvão e óleo, caras e poluentes. Com as críticas, o governo lançou mão de projetos herdados, como as usinas do rio Madeira (FHC) e Belo Monte, revisão de proposta dos militares.

O fracasso da reforma de 2004 foi reconhecido em 2012 com a medida provisória nº 579. A trajetória de explosão tarifária e deterioração da qualidade é injustificável para um país dotado de excelentes recursos tecnológicos, humanos e naturais (hídricos, eólicos, cogeração com biomassa e gás natural, fotovoltaicas e minieólicas embebidas na rede de distribuição, racionalização).

A medida provisória não corrigiu as deficiências, mas aprofundou a crise e ampliou os impasses com a judicialização do setor. Em vez de desmontar a máquina de aumentar custos, intrínseca ao modelo vigente, criou uma sangria bilionária de recursos públicos para manter uma inexequível promessa de reduzir tarifas sem reduzir custos. Transfere dezenas de bilhões de reais da nação e destrói patrimônio público.

Pela Constituição, as usinas com concessões vencidas pertencem à nação, e não ao governo de plantão. Foram construídas pelas gerações passadas e deveriam beneficiar as futuras ao contribuir para redução de assimetrias sociais, e não como butim para propaganda populista. O sistema Eletrobras, especialmente Chesf e Furnas, patrimônio social, foram dilapidadas financeira e debilitadas tecnicamente.

Explosão tarifária, deterioração da qualidade e riscos de desabastecimento de energia decorrem de escolhas equivocadas para promover a expansão da oferta, sem respeitar a sequência de mérito; de insuficiente capacidade instalada de usinas hídricas e eólicas, requerendo a operação térmica muito acima do justificável; de modelo e critérios de operação deficientes; de alocação de garantia física de venda superior à capacidade confiável de geração para muitas usinas; da representação errônea de parâmetros das usinas, reservatórios e da hidrologia no modelo de operação; de custos de transação e de riscos que poderiam ser evitados, especialmente nos contratos de suprimento de combustível; de privilégios para os grandes consumidores, ditos livres, com alocação assimétrica de riscos e custos entre os ambientes de contratação.

A hidrologia e a demanda voltam a ser culpadas pelos riscos e problemas, mas têm se comportado previsivelmente. A crise permanente é consequência do modelo de organização, gestão, planejamento e operação, exigindo revisão.
.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Falta de educação

PAULO SARDINHA
O GLOBO 

Levantamento indica que 38% dos nossos universitários são analfabetos funcionais


Entre os desafios atuais da gestão com pessoas está o de contribuir para o aumento da produtividade das organizações. Como produzir melhor é uma questão urgente, ainda mais quando pesquisas como a do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) apontam que somente com uma alta média de 3% ao ano na produtividade do trabalho será possível a economia brasileira crescer na casa de 4% ao ano. Para piorar esse cenário, há estudos que colocam o país entre os últimos na América Latina neste quesito.

Para as empresas, o dilema é visto do seguinte ângulo: como implementar uma cultura de alto desempenho? Desafios assim exigem rapidez de resposta das organizações, principalmente para aquelas que querem aproveitar as oportunidades que surgem com a Copa e as Olimpíadas. Entretanto, a mudança cultural passa necessariamente pelo sucesso do engajamento das pessoas.

Não há como negar que o desempenho da empresa está diretamente relacionado ao comprometimento dos funcionários. Fazer com que as pessoas deem o melhor de si — porque são estimuladas pelos objetivos da empresa, facilitando, assim, o trabalho no regime de colaboração e integração — é vital para alcançar os resultados desejados.

Entretanto, a produtividade não depende apenas de engajamento, mas também da capacidade de cada profissional. Por mais que as empresas invistam em ferramentas e programas que valorizem os colaboradores, a falta de mão de obra qualificada tornou-se um dos principais empecilhos para o aumento da produtividade.

Há iniciativas para tentar minimizar esse cenário. As próprias empresas vêm, cada vez mais, investindo em qualificação, seja financiando a graduação ou pós-graduação de funcionários, a concretização de parcerias com faculdades, a criação de suas universidades corporativas, além da realização periódica de cursos de atualização profissional.

Infelizmente, as deficiências são ainda mais básicas em um país que tem, segundo o IBGE, 13,2 milhões de analfabetos. E levantamento do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa indica que 38% de nossos estudantes universitários são analfabetos funcionais. São pessoas que entram no mercado de trabalho com dificuldade para realizar tarefas simples como a leitura e compreensão de um texto ou um cálculo matemático.

Por maior que seja o comprometimento dos setores de RH com os resultados que as empresas devem alcançar — e esse será justamente um dos pontos do RH Rio, em maio —, as ações terão resultados limitados enquanto a educação persistir como um dos principais problemas no país. Enquanto nossos índices continuarem próximos dos de países subdesenvolvidos, não haverá engajamento suficiente que impulsione o crescimento das organizações.
.

GEOMAPS


celulares

ClustMaps